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#5 | O sofrimento ético dos jornalistas; pesquisas sobre quilombolas; estudos sobre podcasts

Olá, veja em detalhes as publicações selecionadas para a edição 5 da Periódica.

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O sofrimento ético no mundo do trabalho dos jornalistas

Autor: Thales Vilela Lelo


O artigo é resultado de relatos colhidos em 15 entrevistas semiestruturadas realizadas em 2016 com jornalistas de São Paulo que atuavam em plataformas digitais com abrangência nacional. Dez dos entrevistados responderam que em algum momento da carreira foram orientados a produzir matérias que violassem o Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros.
As práticas descritas como violadoras do código incluem: distorção de dados para promover aliados políticos dos veículos; omissão de informações que poderiam afetar aliados políticos dos diretores da empresa; realizar pautas "encomendadas" por anunciantes ou agentes públicos.
O autor argumenta que, sob a óptica da sociologia do jornalismo, a transgressão ética acrítica a pedido seria "consequência de uma ausência de consciência de classe na categoria" (p. 5). Outro fator que pode ajudar a compreender o fenômeno é o "deslocamento na identidade profissional do comunicador a partir das reestruturações produtivas que vêm promovendo transformações nas redações" (p. 5) de modo que a "intensificação dos tempos de produção da notícia, da convergência multimídia e do enxugamento dos quadros profissionais fomentariam um terreno fértil para a violação da ética jornalística" (p.5).
O texto problematiza como a formação oligopolizada da imprensa brasileira mesmo após o processo de redemocratização contribui para as faltas de conduta devido aos interesses políticos e econômicos dos empresários do setor. A falta de um órgão que julgue desvios éticos e a falta de representatividade em discussões de âmbito nacional sobre democratização da mídia também são fatores relevantes no contexto supracitado.
De volta à análise dos relatos, o autor ressalta que o sofrimento ético deriva de práticas que vão de encontro aos princípios deontológicos da profissão e da falta de reconhecimento na redação. A partir de Dejours (2007) e da articulação com o conceito de banalidade do mal segundo Arendt (1999), o texto discute como a "banalização da injustiça social no ambiente organizacional" viabiliza a "racionalização de condutas eticamente reprováveis nortadas exclusivamente por objetivos financeiros" (p. 11).
Uma característica que relaciona essa articulação com os relatos colhidos é que as cinco entrevistadas que disseram nunca terem sido coagidas para burlar os princípios éticos também não precisaram de acompanhamento terapêutico/médico para elaborar o trabalho e relatam o reconhecimento por seus pares e superiores. Discurso contrário aos entrevistados que foram coagidos e que descrevem sintomas de sofrimento psíquico motivados por trabalho em ambientes abusivos e que, em última medida, resultam em uma atitude de abandono do jornalismo (conforme relatam pelo menos quatro fontes ouvidas pelo pesquisador).
Aqueles que escolhem seguir na profissão mesmo diante do sofrimento ético compartilham as estratégias silenciosas de resistência, como assinar o texto como "redação" e a recusa a falsificar aspas ou provas contra políticos. A demissão voluntária também surge como forma de resistência neste contexto.
A convergência nos relatos revela as condições estruturais da profissão, da lógica estritamente econômica vigente na grande imprensa, passando pela reconfiguração do fazer jornalístico a partir da integração de novas tecnologias e arranjos de trabalho, pela falta de reconhecimento e "identidade ocupacional forjada também por imperativos morais e um conjunto de práticas em frontal desacordo com eles" e como essa complexa dinâmica, em última instância, tem impacto negativo sobre os jornalistas que vivenciam tais experiências, provocando a deterioração da saúde mental e desestímulo à profissão.

Estudos sobre podcast: um panorama do estado da arte em pesquisas brasileiras de rádio e mídia sonora

Autora: Luana Viana

O artigo analisa como 34 pesquisas de rádio e mídia sonora abordam os podcasts entre 2004 e 2019. A definição de um conceito sobre o podcast é a primeira questão abordada: não há um autor chave que estabeleça os parâmetros de classificação, então a conceituação parte dos primeiros pesquisadores a abordarem o tema ou de categorizações feitas pelos autores das pesquisas.
Em 2006, Medeiros delimitou algumas características do podcasting que o colocava em contraposição à produção radiofônica: a ausência do suporte (rádio), conteúdo sob demanda em vez de fluxo contínuo e modo de produção descentralizado foram algumas das especificidades diferenciadoras.
Assim, com base nos trabalhos analisados, foi possível verificar que os principais referenciais teóricos para explicar o podcast vêm dos estudos de rádio e mídia sonoras, seguido por cibercultura e mídia digital. Aqueles autores que abordam o podcast sob a perspectiva dos estudos de rádio o interpretam como parte integrante de um cenário de transformação do rádio tradicional. Dentre as metodologias mais populares no corpus analisado, a revisão bibliográfica se destaca, seguida por estudo de caso, análise de conteúdo, pesquisa exploratória e demais métodos.
A caracterização dos podcasts nas pesquisas incluem três categorias: audiência, produção e transmissão. Dos 34 trabalhos, 20 não mencionam audiência e, naqueles que a abordam, autonomia, segmentação e assincronicidade são peculiaridades relevantes. Em relação à produção, as características mais recorrentes entre os autores são: descentralização, autonomia, horizontalidade, facilidade, assincronicidade e 16 trabalhos não citam qualquer um desses itens. Sobre a transmissão, a assincronicidade, a automatização e o fato de ser on demand receberam destaque nos trabalhos.
Segundo a autora, o caráter automatizado da transmissão do podcast é visto como definidor por alguns pesquisadores em relação aos limites do que é uma mídia sonora em plataforma digital e o que é um podcast. A transmissão automatizada é tida pela autora como um dos fatores que permitiram a expansão dos podcasts.
Em um breve percurso histórico, o texto faz um apanhado das discussões teórico-metodológicas sobre podcast. Classificação por modelos; temas frequentes; modelos de negócio; construções narrativas; dinâmicas de produção; circulação e consumo: estas são algumas das questões que têm sido aprofundadas e ponderadas ao longo dos anos no que se refere às pesquisas sobre podcast.
A partir do levantamento, a autora faz três comentários sobre o estado da arte das contribuições teórico-metodológicas sobre podcast: o referencial teórico tem origem em sua maioria de estudos de rádio; a necessidade de dedicação a propostas metodológicas focadas em mídia sonora; o foco de estudo nas formas narrativas e modelos de financiamento — e não mais na discussão se podcast é rádio ou não.

TA NI N’SORO? O olhar para a temática quilombola nas pesquisas em comunicação

Autores: Giovana Borges Mesquita e Danilo Borges

O artigo abre a discussão com a conceituação de quilombos na contemporaneidade a partir de alguns autores. Arruti (2018) propõe três ressemantizações para o termo quilombo, a saber: cultural, política e negra. Nascimento (1991) "estruturou um modelo de articulação político-ideológico da sociedade brasileira tendo como base experimental as experiências históricas dos povos africanos em territórios americanos, dando ênfase ao Brasil" (p.142). Lélia Gonzalez e Laura Cecilia López também propuseram um olhar para a experiência do negro nas Américas tendo como ponto comum a partilha da ancestralidade negra africana.
Assim, nas décadas de 1970 e 1980, chegou-se à categoria de "comunidades negras incrustradas". A ressignificação ao longo do tempo levou ao quilombo contemporâneo e a questão da territorialidade e a territorialidade étnica assumem um papel central no debate. Os laços comunitários se estabelecem nas relações de cor/raça e nas historicidades reveladas individual e coletivamente.
Neste contexto, a promulgação do artigo 68 da Constituição de 1988 é um marco temporal importante pois coloca as populações quilombolas como parte da agenda de discussões sobre territórios, como exercício de cidadania e busca por direitos.
Para acompanhar como as pesquisas em comunicação abordam os quilombolas, os autores buscaram por produções acadêmicas desenvolvidas entre 2010 e 2018 que tivessem como palavras-chave quilombo; quilombos; quilombolas; quilombola. Ao todo, foram encontradas 23 dissertações e sete teses.
Dos 30 trabalhos encontrados, 21 foram desenvolvidos em comunidades quilombolas — 16 na região Sudeste (com destaque para a Universidade Metodista de São Paulo que tem seis pesquisas sobre o tema). Os autores ressaltam que no Brasil há mais de 3.000 comunidades quilombolas reconhecidas em todas as regiões do país, sendo que o Nordeste concentra a maioria delas (2.136).
Sobre o foco de análise e suporte das pesquisas, a televisão representou a maior parte do quantitativo. Rádio, vídeo, jornais/revistas, dança e fotografia/canção também foram objetos de estudo das pesquisas observadas. Apenas quatro trabalhos se dedicaram a analisar como o discurso sobre os quilombolas é construído por meio das teorias do discurso e/ou representação.
Chama a atenção dos pesquisadores que a maior parte dos trabalhos de campo foram realizados em comunidades quilombolas rurais. Além disso, eles alertam para a baixa expressividade da temática dos quilombolas nas pesquisas de Comunicação, mas celebram o aumento da procura — 33,3% dos trabalhos foram realizados entre 2015 e 2018, apontando o aumento gradual de interesse sobre o tema. O foco das pesquisas gira em torno das formas de ser quilombola e ainda carecem de análises sobre as representações das comunidades quilombolas (especialmente as urbanas) nas produções midiáticas.

Programe-se

[Publicações]

__Journal of Global Diaspora and Media. Dossiê: Migrações, diásporas e mídia: direitos humanos e (in)mobilidade durante a pandemia. Prazo: 15/01. .
__Ámbitos - Revista Internacional de Comunicación. Dossiê: Comunicar em tempos de pandemia, além da Covid-19. Prazo: 15/01. .
__E-book PPGCine-UFF. Dossiê: Rupturas e Insurgências no Cinema e Audiovisual. Prazo: 31/01..
__Revista Movimento. Dossiê: Animismo. Prazo: 31/01. .
__Radiofonias – Revista de Estudos em Mídia Sonora. Dossiê: Rádios universitárias em tempos de ataques à ciência. Prazo: 02/02. .
__Revista Abusões. Dossiê: Gótico, Fantástico e Ficção Científica: séries cinematográficas, televisivas e de streamings. Prazo: 02/02.
__Revista Mediapolis. Dossiê: Representações do jornalismo e dos jornalistas. Prazo: 10/02/2021. .
__Revista Líbero. Dossiê: Cinema de garagem e transmissão multimídia na Internet. Prazo: 15/02. .
__Revista Mídia e Cotidiano – 2ª Edição. Dossiê: A imagem e seus “diálogos”: linguagens, deslizamentos, insurgências. Prazo: 22/02. .
__Significação - Revista de Cultura Audiovisual. Dossiê: Arlindo Machado: Conceitos e processos poéticos nas comunicações e artes. Prazo: 07/03. .
__Brazilian Journalism Research. Dossiê: Populism, Media and Journalism. Prazo: 31/03/2021. .
__Revista Paulus. Dossiê: Comunicação, ética e ressignificação do humano. Prazo: 31/03. .
__Liinc em Revista. Dossiê: Infodemia e o Nosso Futuro. Prazo: 31/03. .
__Revista Mídia e Cotidiano – 3ª Edição. Dossiê: A informação e o mal: disputas éticas, políticas e epistemológicas da Comunicação em tempos extremos. Prazo: 14/06. .
__Revista Paulus. Dossiê: Comunicação, tecnologia e capitalismo de vigilância. Prazo: 30/09. .

[Eventos]


__Simpósio Internacional Mucho, Mucho Amor: a complexidade midiática de Walter Mercado. Prazo: 06/02. Realização do evento: 15 e 16/04. .
__I Congreso Internacional - Comunicación, medios audiovisuales y análisis en España y LATAM. Prazo: 07/02. Realização do evento: 24, 25 e 26/03. .
__IV Simpósio Nacional do Rádio. Prazo: 12/02. Realização do evento: 05, 06 e 07/05. .
__22ª Convenção Anual da Media Ecology Association. Prazo: 15/02. Realização do evento: 08, 09, 10 e 11/07. .

[Processos seletivos]


__Professor Visitante no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Roraima (área de concentração em Comunicação, Territorialidade e Saberes Amazônicos). Prazo: 05/01. .
__Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Anhembi Morumbi. Prazo: 22/01. Vagas: 15 (ME) e 10 (DO). .


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