Acabo de lembrar o começo de tudo isso enquanto faço café, talvez porque esse é o momento que mais estou presente (além de quanto estou fotografando), um dia resolvi fazer uma festa de aniversário apenas com meus amigos e passei muito tempo falando com todos eles sobre isso e estávamos todos animados, confirmei o melhor dia para todo mundo e minha mãe fez muita questão de organizar as melhores comidas e tudo que eu amava e que poderia fazer meus amigos também gostarem, contamos quantas pessoas iriam e essa celebração seria no Domingo (claro pra não bater com o dia da escola e atividade dos pais que levariam seus filhos até minha casa), foi tudo muito bem feito, organizamos a área que tinha atrás de casa para todo mundo ficar confortável, no dia os preparativos estavam acontecendo e como não tínhamos a tecnologia que conecta as pessoas como hoje seria quase impossível de saber se estavam chegando ou não, como não quero extender com os mínimos detalhes, chegou na hora marcada e ninguém estava lá, uma hora depois duas primas muito próximas chegam e isso recupera minha animação na festa que já estava caindo (aqui as lágrimas estão correndo por lembrar), ainda tendo fé nas pessoas disse que esperaríamos mais algum tempinho para que pudéssemos começar a comer e celebrar aquele dia que deveria ser muito especial, mas infelizmente ninguém chegava, na verdade ninguém realmente foi, celebrei aquele dia com essas duas primas que até hoje sou muito próximo a elas mas os meus amigos desapareceram, no dia seguinte na escola eu ouvi e vi inúmeras pessoas falando que eu tinha feito uma festa que ninguém foi, os meus amigos que eram da mesma sala nenhum chegou a falar comigo e a única que tentou me explicar o porquê de não ir chegou tarde demais pois eu já estava tendo a primeira crise de pânico da minha vida e de ansiedade também, eu queria fugir daquele lugar e sentia ódio por todas aquelas pessoas, eu não quis voltar lá nunca mais na minha vida mas infelizmente foi preciso voltar no dia seguinte e em todos os outros, nunca mais consegui focar em estudar ou falar com pessoas nas aulas, sempre escolhi ficar lá trás sem falar com ninguém ou pra precisar fazer qualquer coisa que envolva outras pessoas, vocês entendem o que é uma criança de 13 anos ter sua primeira festa de aniversário planejada por si e feita com tanto amor para seus amigos e ser quase jogada no lixo porque as pessoas quiseram foder com ela? Sim minhas primas salvaram aquele momento e tenho lembranças também felizes desse dia mas alimentar as expectativas de uma pessoa enquanto cava o buraco dela é uma atitude completamente desumana. Éramos todos crianças na época e talvez essas pessoas não saibam o que fizeram comigo naquele dia mas tenho certeza que perceberam no dia seguinte durante a crise. Nada foi o mesmo, todos os professores foram muito cuidadosos comigo, a direção da escola me acompanhou muito de perto pois todos ficaram sabendo do ocorrido mesmo que eu não quisesse contar (não conseguisse), vocês entendem que hoje em dia eu realmente não consigo me permitir abrir a todo mundo e quando o faço é por realmente acreditar que essa pessoa tá me mostrando ser diferente dessas do passado. Agora consigo entender a origem de tudo isso e isso me dói porque eu sempre acreditei nas pessoas e mesmo até hoje depois de quase 10 anos desse acontecido eu sigo acreditando nas pessoas e me fodendo pra caralho. A dúvida que sempre fica na minha cabeça é como as pessoas podem ser tão escrotas com outras, como elas fazem isso sem culpa alguma? Nesse momento eu choro no canto da cozinha com meu café do lado, choro por saber que essa ferida da infância me acompanha até hoje, choro por saber que as pessoas continuam assim, choro por saber que sigo confiando, choro por saber que isso não mudará, mas também choro por saber que existem pessoas como minhas primas que foram chamadas de última hora e fizeram uma viagem grande pra chegar na minha casa e me fizeram tão feliz naquele momento que poderia ter me destruído completamente e tudo poderia ter sido ainda pior, choro porque iremos encontrar na vida pouquíssimas pessoas que são realmente humanas e que por mais que eu não consiga deixar de acreditar em todo mundo, pelo menos uma dessas irá valer. E talvez todas elas valham mas nunca saberemos pois essa ferida que minha criança de 13 anos está olhando pra ela e chorando irá continuar aberta e outras pessoas irão chegar para abrir ainda mais, para colocar o dedo e fazer doer, choro porque sei que também terão pessoas com o kit de primeiros socorros prontas para ajudar a estancar o sangue que corre dela. Tem sido cada dia mais difícil seguir me conectando com outras pessoas e criando laços mas talvez essa seja minha função no mundo ou eu precise aprender que eu não posso focar nessas pessoas que me fazem pior. Provavelmente eu precise aprender que as pessoas que valem a pena são aquelas que me dão suas feridas para que eu ajude enquanto elas estão tentando ajudar com as minhas feridas. Acabo de lembrar que no fim dessa festa uma terceira prima chegou e ela chegou com tanta energia e felicidade, a mãe dela não gostava muito de mim e ela tinha apanhado por querer estar lá comigo até que meu pai foi lá fazer com que ela fosse fazer parte desse meu momento. Essas pessoas salvaram uma criança que poderia ter entrado numa depressão profunda e ter perdido a vida tão cedo (sim eu tentei várias vezes mas sempre vi essas pessoas que me salvaram). Eduarda, Fernanda e Taiza vocês foram e são meus anjos.