A Comunicação Não-Violenta oferece formas práticas para entrarmos em contato com a nossa capacidade compassiva e para termos maiores chances de colaboração nas relações. Para isso, concentramos a nossa atenção nos 4 componentes da CNV. Vamos olhar para o que é cada componente:
Observação
A observação consiste em separar o que de fato aconteceu em uma situação das avaliações que fazemos sobre ela. Uma observação, pela CNV, é a descrição de algo que aconteceu. As observações são muito simples pensando que qualquer pessoa que estivesse como testemunha da situação a ser descrita, a descreveria da mesma maneira.
Por exemplo: Se estou com alguém e digo “tem três copos e um livro em cima da mesa” ela pode ver e comprovar, com seus próprios olhos, o que eu digo. A observação é essencial para a CNV por nos aproximar de uma leitura de realidade compartilhada, na qual estamos de acordo sobre o que foi feito ou dito, e isso diminui as barreiras para seguirmos a conversa.
Imagine que, para descrever uma situação, você diz: "Quando cheguei em casa, a louça estava na pia." Ou, em vez disso, diz: "Você nunca faz o que promete, você é uma bagunceira egoísta!"
Em qual situação você imagina que a outra pessoa teria mais disponibilidade para continuar te escutando?
Nossos olhos ou uma câmera veriam a mesma imagem/som. Dificilmente, a outra pessoa discordará do fato que a louça esteja na pia. Mas escutar que sempre faz isso ou que é uma bagunceira, provavelmente irá despertar reatividade e defesa na outra pessoa.
Os julgamentos e avaliações são parte da nossa experiência humana e muitas vezes atuam como mecanismos de defesa. E a Comunicação Não-Violenta não sugere que devemos parar de julgar.
O objetivo em focar a atenção na observação é, primeiro, reconhecer que quando verbalizamos os nossos julgamentos, diminuímos as chances de sermos compreendidos.
Sentimentos
Na Comunicação Não-Violenta, para nos comunicarmos de maneira que conecta, Marshall Rosenberg identificou o componente dos sentimentos. Expressar os nossos sentimentos, trazendo a nossa vulnerabilidade, nos aproxima uns dos outros.
O desafio é que a maior parte de nós não teve uma gestão emocional e costuma misturar o que pensa com o que sente. É comum, ao perguntarem “e o que você está sentindo?”, respondermos algo como “Eu sinto que isso vai dar errado” ou “Eu sinto que ele está me desrespeitando”. Percebe que essas frases não falam sobre sentimentos, mas sim sobre pensamentos sobre a situação ou sobre outra pessoa? Isso também acontece com algumas palavras que parecem descrever sentimentos, mas que contam mais dos nossos julgamentos das ações dos outros, como “eu me sinto injustiçada” ou “eu me sinto humilhado”.
Na Comunicação Não-Violenta, sentimentos são mensageiros de necessidades atendidas ou não atendidas. Por exemplo, se um colega de trabalho responde um e-mail com as informações que solicitei, eu posso me sentir aliviada, porque colaboração e evolução no trabalho são importantes para mim. Ou quando a pessoa que contrata seus serviços, paga a você com 1 semana de atraso, você pode se sentir chateado, porque compromisso e confiança são importantes para você.
A compreensão do papel dos sentimentos faz com que não seja produtivo separar os sentimentos entre bons e ruins, como muitos de nós estamos acostumados a fazer. Na CNV, os sentimentos são mensageiros das nossas necessidades humanas universais, que é o próximo componente que vamos explorar.
Necessidades
As necessidades são as motivações que nos levam a fazer, falar e escolher - por trás de toda ação, existe uma necessidade humana universal.
Ou seja, todas as pessoas, independente da idade, gênero, classe social, tempo ou lugar em que vivem, possuem as mesmas necessidades. Essa compreensão faz com que seja mais fácil, em uma conversa difícil por exemplo, buscarmos pelo que há de comum entre nós, nos conectando com a nossa humanidade compartilhada.
Se entendo que por trás da sua escolha existe uma necessidade, fica mais fácil compreender a sua motivação.
Imagine que você quer sair de casa às 6h para uma viagem de carro, e a pessoa que vai viajar com você quer sair às 8h. Vocês podem acabar entrando em um confronto, acusando um ao outro com falas como “você é muito descompromissada” e “você é muito estressada e ansiosa”, se não souberem quais são as motivações por trás da preferência de cada um.
Pode ser que vocês cheguem à conclusão que saindo às 7h15 vocês cuidam do compromisso como chegar no local no horário combinado e do descanso que a outra pessoa precisa para se sentir segura em pegar estrada.
Essa compreensão de necessidades para a CNV aumenta a nossa consciência de que o quê a outra pessoa faz ou diz não é a causa do que sentimos. A causa do que sentimos está nas nossas necessidades.
E o próximo componente, os pedidos, pode ajudar muito nisso.
Pedidos
Os pedidos, último componente da CNV, são a expressão de como gostaríamos de atender nossas necessidades. Quando fazemos pedidos, damos ao outro a oportunidade de colaborar com o que é importante para nós.
Algumas pessoas veem pedidos como um sinal de carência ou fraqueza; algumas acreditam que pedir é incomodar as pessoas; ou ainda que “eu não deveria pedir, porque o que eu preciso é óbvio”.
Essas crenças que muitos de nós alimentamos nos afastam de fazer pedidos, o que pode ser a raiz de muitos de nossos confrontos. Na intenção de não incomodar, deixo de pedir o que quero e me frustro. Por acreditar que o que eu preciso é óbvio, não falo nada e crio expectativas que jamais são cumpridas, e que viram um peso na relação.
A ideia então é fazer pedidos claros e específicos para que as outras pessoas compreendam o que verdadeiramente nos importa e saibam como contribuir para a nossa vida, dando a elas a oportunidade de nos dizer sim ou não para o que estamos pedindo. Se não temos abertura para escutar um não ao nosso pedido, então estamos fazendo uma exigência, e não um pedido.
Por isso é tão importante termos consciência de quais necessidades buscamos atender quando fazemos um pedido.
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